O Brasil vive um paradoxo estrutural: enquanto algumas regiões acumulam investimentos, inovação e desenvolvimento acelerado, milhões de pessoas seguem invisíveis à lógica de crescimento dominante.
Segundo o IBGE (2023), mais de 33 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar, e cerca de 11 milhões ainda não têm acesso à rede de esgoto. Ao mesmo tempo, o país movimenta mais de R$ 5 trilhões por ano em PIB, com grandes empresas expandindo suas operações em centros urbanos e polos industriais.
A questão que emerge é simples, mas urgente: quem está crescendo com esse crescimento?
Uma pesquisa do BCG (2022) aponta que empresas que investem em impacto social territorial têm 2,5 vezes mais chances de alcançar crescimento sustentável de longo prazo. Isso porque territórios não são apenas contextos operacionais, são redes vivas de pessoas, saberes e relações que influenciam diretamente a reputação, a legitimidade e a estabilidade de qualquer organização.
Apesar disso, o estudo do Insper/ICE (2023) revela que apenas 12% das grandes empresas brasileiras têm programas estruturados de desenvolvimento territorial integrados à estratégia de negócio.
Ou seja: ainda há um abismo entre intenção e prática.
Ignorar os territórios significa não perceber os riscos latentes que vêm da desigualdade social, do colapso da infraestrutura pública, do desemprego estrutural ou da evasão escolar. Todos problemas que afetam a cadeia produtiva, a força de trabalho e o consumo local.
Segundo o Ipea (2023), cada R$ 1 investido em programas de inclusão produtiva em territórios vulneráveis gera até R$ 4,50 em retorno econômico indireto. O impacto está claro, mensurado e documentado, mas ainda distante do centro das decisões empresariais.
É preciso ir além do ESG de reputação. O verdadeiro compromisso começa nos lugares onde a empresa se enraíza, não apenas onde ela se promove.
Ao olhar para o território com profundidade, empresas podem:
Antecipar tendências sociais que afetarão seu mercado consumidor;
Construir alianças locais mais resilientes com lideranças comunitárias e agentes públicos;
Fortalecer sua cadeia de suprimentos com fornecedores de base territorial;
Reduzir riscos sociais e ambientais que impactam diretamente suas operações.
Deixar de lado esse olhar é não apenas perder oportunidades: é correr riscos silenciosos.
O Fórum Econômico Mundial, em seu relatório de 2024, aponta que o futuro do crescimento sustentável está na convergência entre inclusão, inovação e regeneração. As empresas mais resilientes serão aquelas capazes de operar em sistemas vivos, onde o sucesso de um depende do fortalecimento do todo.
Crescer sem os territórios é crescer pela metade. E, em um mundo de incertezas e redes interdependentes, crescer pela metade é correr pela metade do caminho, e cair na metade do tempo.
A pergunta que fica é: estamos prontos para um novo ciclo de crescimento que inclua e retribua? O futuro exigirá mais do que eficiência. Ele exigirá pertencimento e responsabilidade compartilhada.